31/12/2010 – A BOLA
Entrevista realizada pelo jornal “A Bola” ao técnico português José Mourinho.
«Ganhei muito em ter ido para o FC Porto e reconhecê-lo-ei para sempre!»
«A saída do FC Porto para o Chelsea fez com que a minha vida deixasse de ser perfeita.»
1ª Parte (FC Porto)
Sobre com quem falava de futebol no Porto, em comparação com o Real Madrid.
JM: Estava habituado a trabalhar em clubes onde as minhas relações eram directas.
AB: Com o presidente?
JM: No Porto, era eu com o presidente. Nem director desportivo tinhamos.
AB: Fala com quem no Real?
JM: Prefiro falar com o presidente..
AB: Se não falar com o presidente, não tem interlocutor?
JM: Ou tenho demasiados..
Ainda comparações com o Real Madrid.
JM: Quando ganhei a Champions no pelo FC Porto, pensava que tinha sido a tarefa hercúlea da minha vida. Depois ganho com o Inter e penso ainda mais, em função dos adversários que nos apareceram e da qualidade da equipa. Pensei: ok, bati no topo. A partir de agora vai ser tudo mais fácil.
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AB: É mais difícil ganhar a Champions este ano com o Real Madrid do que foi ganhar com o FC Porto ou o Inter?
JM: Não quero ir tanto nessa direcção porque a qualidade dos jogadores é superior. Quando a qualidade dos jogadores continua a ser um aspecto importante na construção de uma equipa e no desenvolvimento de uma equipa de futebol, não posso dizer isso. Seria contraditório com a qualidade da minha equipa. Nunca tive um Cristiano Ronaldo nas minhas equipas anteriores, nunca tive um Xabi Alonso a fazer passes de 40 metros de olhos fechados.
JM: Em tudo que é estrutura à volta de uma equipa e as estruturas que contribuem para que uma equipa ganhe, é uma missão mais difícil.
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AB: Até pode ser Mourinho a ajudar o clube a mudar?
JM: Espero que sim. Foi para isso que vim.
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AB: O FC Porto tem uma estrutura que protege a equipa. É uma estrutura mais forte do que a que encontrou no Real Madrid?
JM: Encontrei o FC Porto que dominou em Portugal nos últimos 20 anos. com uma estrutura mental, emotiva e princípios básicos. O que aconteceu quando eu lá estive foi uma modernização dessas estruturas, uma modernização da estrutura mental que dominava todas as outras.
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AB: Foi iniciada por si?
JM: Acho que sim. Com gente de grande competência, inteligência e dedicação.
Os melhores jogadores do campeonato português segundo José Mourinho
AB: Esta época tem-lhe despertado o olho para algum jogador no campeonato português?
JM: Quando foi a eliminatória do SC Braga com o Sevilha gostei muito do Sílvio. Nem o conhecia, nem sabia que era português, quantos anos tinha. É o tipo de lateral de que gosto: sabe defender, fechar os espaços interiores, tem qualidade, técnica, virtuosismo, gosta de atacar. Gostei muito.
JM: Depois os outros são jogadores que conhecemos. Falcao é óptimo atacante e Hulk também. São grandes em Portugal, mas se forem para o estrangeiro também têm condições para vencer.
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«No FC Porto, o normal é ganhar, o anormal é não ganhar»
«É um clube (o FC Porto) que, no futebol português, está feito para ganhar.»
Sobre o campeonato português
AB: Sente que no final de uma primeira época com bons resultados há o perigo de a segunda não ser tão boa?
JM: As exigências e os desafios são diferentes. Lembro-me que na minha segunda época no FC Porto decidi mudar o sistema de jogo.
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AB: Está surpreendido com o desempenho de André Villas-Boas?
JM: Não.
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AB: Porquê?
JM: Porque no FC Porto, o normal é ganhar, o anormar é não ganhar.
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AB: Qual acha que é a contribuição dele para o actual desempenho e resultado da equipa?
JM: É a contribuição de qualquer treinador do FC Porto, obviamente. O treinador que ganha tem a responsabilidade na vitória, o treinador que perde tem responsabilidade na derrota. E nos últimos anos, no FC Porto, os treinadores que têm feito a diferença não são aqueles que ganham os campeonatos, são aqueles que não ganham os campeonatos.
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AB: Mário Wilson dizia que quem treina o Benfica arrisca-se a ser campeão. É o mesmo com o FC Porto?
JM: Também tem de ter mérito. Mas é um clube que, no futebol português, está feito para ganhar.
(em actualização)